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O 3º Andar: Terror na Rua Malasaña

O 3º Andar: Terror na Rua Malasaña

Um festival de cinema proporciona a oportunidade de ver  obras de variados países que normalmente não chegariam ao circuito comercial, dando a conhecer cinefilias alternativas à dieta regular do mercado americano. Este ano o MOTELX teve na sessão de abertura um filme de terror espanhol, O 3º Andar: Terror na Rua Malasaña, em antestreia nacional (o filme tem data de lançamento marcada para dia 10 de  Setembro). Que desilusão, então, encontrar um produto totalmente inspirado nos piores vícios do cinema americano do género, completamente descaracterizado e formulaico que desperdiça a oportunidade de tecer um comentário relevante assente no enquadramento histórico especificamente espanhol que constrói.

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Em 1976, nos primeiros dias da transição do governo ditatorial do General Franco, a família Olmedo vende a quinta e muda-se do campo para a cidade de Madrid à procura de uma vida melhor, endividando-se para comprar um apartamento, o titular 3º andar. No entanto, a casa parece estar habitada por uma estranha presença e estranhos e assustadores acontecimentos começam a ocorrer, incluindo o desaparecimento misterioso do filho mais novo, Rafael, dentro da casa.

O 3º Andar: Terror na Rua Malasaña, desde o primeiro minuto, posiciona-se firmemente no género da casa assombrada, invocando no decorrer da narrativa a memória de filmes como O Fenómeno (Poltergeist, Tobe Hooper, 1982) e chegando a piscar o olho a O Exorcista (The Exorcist, William Friedkin, 1973). Infelizmente, qualquer preocupação com desenvolvimento de personagens ou da trama é substituída por uma obsessão por jump scares, utilizados ad nauseum, repetindo a lição mal aprendida do sucesso de The Conjuring - A Evocação (The Conjuring, James Wan, 2013) e dos seus spin-offs e sucedâneos. Tecnicamente, o filme de Albert Pintó não fica a dever nada aos títulos americanos em que se inspira, mas o realizador confundo tensão e temor com uma barragem incessante de sustos artificiais em que a banda sonora estridente no momento certo faz metade do serviço.

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Quando, no último terço do filme, a equipa criativa se lembrou que havia uma história para contar, a agressão aos sentidos dá lugar a uma série de apressadas revelações, resultando num confronto final vazio de temor ou verdadeiro horror que revela a natureza fraudulenta da técnica usada e abusada até ali para instilar o medo.

E o que dizer de um filme que transforma uma personagem em conflito no que respeita à identidade de género no monstro da sua narrativa, desenhando os "heróis" (ou vítimas às suas mãos) como católicos devotos que recorrem à letra da Bíblia para combater a vil criatura? Presumo que nem Pintó saiba exactamente o que dizer em relação a isto, pois se, por um lado, o realizador expõe a injustiça de uma sociedade agrilhoada a valores retrógradas, nunca denuncia de verdade de que lado deste conflito está o verdadeiro mal, atribuindo as virtudes necessárias à sua conquista às pias personagens.

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