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Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street

Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street

Durante décadas, Pesadelo em Elm Street II não passava da ovelha negra da popular série slasher dos anos oitenta protagonizada por Freddy Krueger. Produzido rapidamente para capitalizar no original de Wes Craven, tornou-se rapidamente numa curiosidade esquecível quando o terceiro filme definiu o tom e o enquadramento para futuras sequelas. Em 2010, o documentário Never Sleep Again: The Elm Street Legacy, um exaustivo olhar pela saga, chamou a atenção de algo que muitos tinham ignorado em 1985: Pesadelo em Elm Street II estava recheado de conotações e sugestões homoeróticas, espantando inclusivamente o realizador Jack Sholder quando confrontado com as evidências. Segundo David Chaskin, este subtexto tornado texto tinha como objectivo sublimar o terror como interioridade a forçar uma violenta exteriorização. Mark Patton, o actor que encarnou o protagonista Jesse, tinha por esta altura desaparecido do mapa, e ninguém sabia dele, apesar de reconvertido em ícone homossexual na sequência do documentário com o qual esta mal-amada sequela começou também a consolidar a sua fama de filme de terror gay e a ganhar considerável culto.

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Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street, realizado por Roman Chimienti e Tyler Jensen, pretende lançar um olhar sobre o impacto o filme que trouxe sucesso instantâneo a Mark Patton, acabando-lhe com a carreira no processo. O curioso é perceber que esta história é também uma história sobre a luta da comunidade gay para se afirmar na década de oitenta, em plena crise da SIDA e enfrentando uma sociedade homofóbica e hostil.  Patton, que tinha abandonado a sua cidade Natal para se exprimir sem reservas em Nova Iorque, acabando por se mudar para Los Angeles para perseguir uma carreira como actor, viu-se obrigado a reprimir a sua sexualidade na sequência das respostas negativas a Pesadelo em Elm Street II. Aliado a uma perda muito pessoal e à sua própria luta com o VIH, Patton fugiu do mundo, refugiando-se numa pacata vida privada. Com este filme, produzido pelo próprio e com a ajuda de crowdfunding, o ex-actor que agora se apresenta orgulhosamente como um activista e um ícone, procura reconciliar o seu papel e o daqueles responsáveis pelas opções — nada subtis, conscientes ou não — tomadas na rodagem do filme.

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Quem procura aqui um aturado documento sobre Pesadelo em Elm Street II não o encontrará — e será muito melhor servido nesse capítulo por Never Sleep Again: The Elm Street Legacy. Este é um filme muito pessoal, a roçar a hagiografia de Mark Patton, um actor a quem o seu primeiro papel de protagonista deu um vislumbre da fama e do sucesso, apenas para lhe tirar tudo logo de seguida. Oferecendo um vislumbre sobre o circuito das convenções de terror, recheadas de fãs dedicados, é também uma celebração da liberdade de expressão e da tolerância, potencialmente servindo como inspiração a todos aqueles que possam sentir-se, ainda no século XXI, aprisionados no armário.

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