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Relic

Relic

Relic estreou mundialmente no Festival de Cinema de Sundance a 25 de Janeiro de 2020, tendo sido aclamado desde então, num mercado constantemente à procura da next big thing (de preferência igual a uma que tenho conseguido sucesso anteriormente), como o "novo" Hereditário (Hereditary, Ari Aster, 2018). As comparações com o filme de estreia de Natalie Erika James, também responsável pelo argumento em colaboração com Christian White, colocam estes filmes num patamar de suposto "terror inteligente", o que, por si só, é um insulto a todo um género que, na minha opinião, não precisa de nenhum tipo de redenção.

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 Relic, co-produção americana e australiana, tem um argumento minimalista e intrigante: Kay (Emily Mortimer) e a filha Sam (Bella Heathcoate) viajam até à casa de Edna, mãe e avó das duas, respectivamente. Edna não é vista à vários dias, e o par procura descobrir o seu paradeiro. Depois de alguns dias sem notícias, Edna aparece novamente em casa e comporta-se de forma estranha, como se nada de errado se tivesse passado. Entretanto, a casa que partilham parece apresentar focos de degradação e ruídos ineplicáveis. Edna, flutuando entre um estado de lucidez e de aparente senilidade, afirma a determinado momento que sente uma presença em casa.

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 Assente em excelentes interpretações, com especial destaque para Emily Mortimer, Relic é eficaz na construção de um ambiente inquietante. Com um ritmo deliberado e ponderado, consegue adensar o mistério pontuando-o com sugestões subtis e fugazes enquadramentos de câmara que nos fazem questionar se teremos realmente visto algo no ecrã. Esta textura é o maior trunfo de uma realização estreante e segura atrás das câmaras de Natalie Erika James. Infelizmente, narrativamente, a falta de desenvolvimento das personagens, de um entendimento das relações e dinâmicas interpessoais passadas, prejudicam o filme assim que a sua metáfora central se revela. Quando passamos da sugestão para a exteriorização do terror, falta-lhe ressonância emocional, dada a ilustração tão literal do seu tema: o peso da degradação do corpo e da mente, seja através de demência, alzheimer ou da própria idade avançada, e a inevitabilidade da morte. Quando a (mais uma vez) simbólica cena final sugere aceitação e perpetuação das tribulações da família pelas várias gerações, pouco sobra além da figura de retórica.

O terror nem sempre precisa de ser inteligente, mas precisa de tocar no nervo além do cérebro para ser realmente assustador.

First Love

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