Segundo Take

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A Beleza não é tudo. É a única coisa.

Este texto foi publicado originalmente na Take Cinema Magazine dia 19 de agosto de 2016 com o título O Demónio de Néon e pode ser lido na íntegra aqui.

Nicolas Winding Refn é um provocador. Ou pelo menos tenta ser. Compatriota de Lars Von Trier tem-se esforçado por chocar público e crítica. Tendo sido consagrado em Cannes pela realização de Drive – Risco Duplo, em 2011, alienou imediatamente meio-mundo com Só Deus Perdoa, não conseguindo capitalizar o regresso de Ryan Goslin como protagonista principal. As suas conferencias de imprensa e entrevistas revelam uma personalidade enfatuada com ela própria, arrogante e presunçosa. O que é muito mais fácil de aceitar quando a sua obra está à altura das suas palavras.

O Demónio de Néon parte de uma premissa banal e muito vista: Elle Fanning é Jesse, uma jovem ingénua recém chegada a Los Angeles com ambições de se tornar modelo, mas qual o preço a pagar para o conseguir? Apesar desta premissa rapidamente nos encontramos fora de pé no que respeita a qualquer expectativa que possamos ter sobre o desenrolar da narrativa. Refn aproveita o contexto da moda para desenhar sequências de grande beleza plástica e somos presenteados com um festim visual e sonoro com mais uma brilhante banda sonora de Cliff Martinez a complementar a força das imagens.

Mas Refn, ao convidar a comparação com Mulholand Drive de David Lynch, coloca-se numa posição difícil, ainda para mais porque, apesar do pesadelo quase onírico da segunda parte do filme, as suas intenções temáticas são óbvias e pouco subtis. Los Angeles é uma selva urbana povoada por predadores e a superficialidade do mundo da moda pode corromper quem se deixa ofuscar por ela. A rivalidade é uma questão de sobrevivência e num mundo de predadores, basta uma distração e uma pessoa pode ser comida. Literalmente.

O Demónio de Néon vai chocar muitas pessoas, mas é como sermos ofendidos por uma criança mal comportada. No fundo só quer a nossa atenção. Quando na recta final o sangue começa a jorrar, pelo meio da necrofilia e do canibalismo, percebemos que estamos perante um filme deexploitation. O horror não é subtil nem metafórico mas sim explícito e literal e Refn, afinal, deve mais ao giallo de Dario Argento do que ao surrealismo de David Lynch. A lua é testemunha do derradeiro acto vampiresco onde o sacrifício acontece para perpetuar a beleza. Afinal, tal como um protagonista revela a determinado momento, “a beleza não é tudo, é a única coisa”.

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